Em Janeiro li, num grupo do facebook para grávidas e mamães que faço parte,
um relato emocionante de amamentação materna exclusiva (A.M.E.) de gêmeos. Tudo que aquela mãe escreveu calou fundo em minha alma, exatamente porque minha alma estava em uníssono com tudo aquilo.
Quando eu era pequena e brincava de mamãe com minhas bonecas, lá dentro de mim eu guardava um medo aterrorizante: "E se eu não puder ser mãe? Papai do Céu vai ter que fazer igual fez com Sara, na bíblia, né?"
Sempre sonhei ser mãe e, apesar da minha gravidez não ter sido planejada (por mim, mas foi por Deus), ela não poderia ter sido mais bem vinda! E, para mim, a amamentação vinha naturalmente atrelada à gestação. Não conseguia conceber a ideia de ter filhos e não amamentá-los (só depois vim a conhecer as patologias que se tornam indicação de alimentação artificial). Quando, na sala de parto, meus dois bebês, chorando, amassadinhos e vermelhinhos, foram colocados junto a mim para mamar, descobri, ali, o sentido da palavra simbiose. Não sei quem mais se beneficia com a amamentação, se eu ou eles. A partir daquele momento, vivificaram-se em mim as palavras da poeta e minha querida professora Lucila Nogueira:
"os partos cobriram minhas asas de raízes e folhas de árvores / e três rostos diferentes complementam minha face". Três - sim! - porque agora o meu próprio rosto era outro, meu semblante era só amor, em cada olheira e em cada sorriso.
Me tornei, então, partidária da amamentação. Defendia a causa a unhas e dentes (e leite e peito!) ante àqueles que, talvez até por ''tradição'', diziam que eu nunca teria leite suficiente para os dois, que o leite materno era ''fraco e ralo'' e que o leite artificial alimentaria-os melhor e nós três dormiríamos mais, que não valia a pena o esforço. Não conseguia entender como as pessoas poderiam achar que algumas horinhas a mais de sono valeriam mais a pena para mim do que ver meus filhos amamentados, felizes e amados. Passei a ver aqui no blog um veículo de transmissão e incentivo, uma ferramenta, para mostrar ao mundo que - sim! - é possível amamentar:
gravei vídeos, dei dicas... (e ficava IMENSAMENTE feliz toda vez que alguém me dizia que tinha recomendado ou lido meu blog com esse objetivo... Me vinha aquela sensação de: Yay!Missão cumprida!)
O sem-fim de benefícios do aleitamento materno gritavam dentro de mim a cada vez que alguém tentava me fazer desistir de amamentá-los. Eles não apenas se alimentam fisicamente, mas seus espíritos são alimentados de muito amor, zelo, proteção e cuidado. (E, exatamente por isso, eu não só amamentei exclusivamente esses 6 meses, mas também o fiz em livre demanda...e, agora, com a introdução dos alimentos, continuarei com a livre demanda, afinal, não se mata só fome com a amamentação!)
Suas mãozinhas segurando meus peitos e seus olhinhos olhando fixamente para mim, como quem me dizia ''que bom que você está aqui!".... a mãozinha do Marquinhos segurando na mãozinha da Melzinha enquanto mamavam juntos e até quando um, mais esfomeado e possessivo, soltava a mãozinha do outro e pegava no peito que o outro estava mamando... o desespero, o choro e o medo que só se calavam quando encostados ao meu peito...tudo isso enchia e enche meu dia de amor! Amamentar é ver a personificação do Salmos 131:2, "De fato, acalmei e tranquilizei a minha alma. Sou como uma criança recém-amamentada por sua mãe; a minha alma é como essa criança".
Claro, houve percalços no meio do caminho... afinal, o que é um caminho sem uma pedra bem drummoniana no meio? Apesar de eu usar uma pomada de lanolina desde o 8º mês de gestação, em dezembro, por causa da pega errada, tive alguns cortes bem feios e doloridos no mamilo. Procurei o IMIP e fui orientada a corrigir a pega e, depois de testar todas as pomadas que me indicavam,usei uma de corticóide e em 1 semana meu peito ficou bonzinho de novo. Mesmo com as dores, eu dava de mamar. Minhas lágrimas molhavam os rostinhos deles, mas eu logo os enxugava e focava na certeza de que ia valer a pena! Eu ficava cantando
"vai valer a pena" quando eles olhavam para mim, saciados e felizes, mas com a boquinha com meu sangue. E valeu!
Quando voltei a trabalhar a dificuldade era outra: estocar o leite. Às vezes eu não conseguia tirar muito durante o dia e acordava de madrugada pra tirar mais, ficava dando de mamar só com um peito pra ordenhar do outro, ficava nervosa, chorava e aí que produzia menos leite mesmo. Cheguei a pedir outra máquina emprestada de uma amiga para poder tirar dos dois peitos ao mesmo tempo. Os questionamentos surgiam: "quanto é suficiente?", "e se eles não ficarem saciados?", "e se se acostumarem com a mamadeira e deixarem meu peito?". E a confusão dos potinhos, a estocagem, os horários, o fato de adicionar à minha (gigante) lista de tarefas ter que esterilizar tudo...
Não foi fácil. Mas, na mesma proporção, foi cheio de amor! Valeu a pena e continuará valendo. O amor que trocamos é, simplesmente, impagável.
Obrigada, meu Deus, por confiar em mim e me capacitar pra essa missão e obrigada, e meus filhos, por me darem a honra de alimentar vocês.